quarta-feira, 29 de outubro de 2008

eu = NÓS

Se eu afirmar que sou voluntária... estou a querer dizer que faço algo de livre vontade; que me ofereço para ...
Parto do princípio que todos sabem o que significa ser voluntário, ou ... mais precisamente... fazer voluntariado.
Em pesquisas de internet, encontrei algumas formações para voluntários e por várias vezes questionava-me qual a importância dessas formações. Afinal de contas... cada pessoa é uma pessoa, e cada voluntário tem um x para dar ... logo, nessas formações ensinam-nos o quê? A ser bom ? A ajudar ? A ser solidário ?
Nada melhor como entrar numa dessas formações e ver com os nossos próprios olhos e foi o que fiz ...! Inscrevi - me numa formação de voluntariado com algumas expectativas. Mas antes ... achei por bem reflectir comigo mesma, algumas ideias que não quero que me sejam " ensinadas " nem transmitidas mas sim ... sentidas e pensadas por mim, apenas!
Perguntei a mim mesma, o que posso eu, enquanto pessoa, " dar " aos outros, ou talvez.. de que forma os posso ajudar. Porquê eu ? Serei mesmo que o deva fazer seja de que maneira fôr ?
Após algum tempo, percebi que eu era a pessoa ideal. Eu poderia ser a solução para muitos problemas. Eu poderia fazer a diferença!!! Eu ... e qualquer um de nós.
Provavelmente, por passarmos a vida a questionarmo-nos do que podemos fazer em vez de fazer é que continuam a haver apelos a "chamarem" por pessoas como NÓS para que possamos fazer parte de algum desenvolvimento, algum bem-estar...
Se não procuramos a solução... fazemos parte do problema!!!
O mundo não se muda sozinho. Muda-se ... com um sorriso verdadeiro, uma boa conversa e uma boa ajuda.
Pequenos actos, como estes, têm de facto e sem qualquer dúvida impacto na vida das pessoas. Só assim se pode romper com lógicas totalizantes de exclusão, empobrecimento, de esgotamento, de esquecimento histórico, de distância psicológica para o resto do mundo.
Muitas de outras realidades da Terra escapam ao nosso quotidiano, e desculpem, mas acredito que a culpa seja inteiramente nossa e só ... nossa.
É preciso repor a ideia de um futuro e destino comuns onde as responsabilidades e deveres são igualmente partilhados. Assim, é possível ajudar.
Voltei a pensar. Porquê fazer voluntariado ? Porquê eu fazer um voluntariado?
Percebi que posso fazer voluntariado por ser um trabalho ... enfim ... socialmente útil. Mas... poder ser muito mais do que isso.
Até que ponto eu não posso dar um grande contributo para a vida de alguma pessoa/população/comunidade onde esteja inserida num projecto. Até que ponto eu não posso facilmente tornar vidas quotidianas mais dignas, inserindo-me em acções dinâmicas abrangentes de cooperação e desenvolvimento mundiais?
Fiquei extremamente surpreendida de que forma podia eu tornar-me uma pessoa diferente e... melhor.
O voluntarido permite-me a mim e a nós, uma auto-realização enquanto seres humanos permitinde-nos também momentos de reflexão sobre as nossas vidas. Que foi exactamente o que me aconteceu !!!
Tudo isto não deixa de ter a ver com a luta por uma cidadania activa que possa usufruir de direitos mas também de cumprir os respectivos deveres para com a comunidade.
Eu posso fazer a diferença. Nós podemos fazer a diferença. Porquê sermos todos iguais ?!
Não é uma obrigação. É uma aprendizagem pessoal e colectiva. É uma aprendizagem intercultural. Promove conceitos e valores humanistas tais como a tolerância, respeito mútuo, solidariedade, justiça e igualdade. É um acto generoso ou não ?
Sem discriminação de sexo, nacionalidade, religião, língua, formação profissional ou situação económica. É um "trabalho" não é um emprego. Não é uma caridade mas sim uma aprendizagem de humildade. É um compromisso pessoal. É abrir a vida a outros contextos familiares e adaptar-se a novos hábitos, vidas diferentes, pessoas diferentes.
No fundo ... é conhecer o mundo com outros olhos e ajudando a melhorar todos os dias. Para isso, para que essa ajuda seja possível é preciso conhecer. Conhecer o mundo que nos "esquecemos" sempre ( por culpa nossa ).


Um dia é pedido a um célebre pintor que pinte o altar-mor e o tecto de uma igreja.

Foi-lhe dado um prazo para a execução da tarefa. Dois anos.

O pintor durante muitos anos não foi visto. Não se sabia nada dele.

Voltou pouco tempo antes de terminar o prazo e executou rapidamente a sua tarefa que foi mesmo concluída antes do fim do prazo.

Confundidos com este comportamento os frades exigiram ao pintor uma explicação.

" - É simples, meus irmãos. Para pintar o divino tive que viajar por esse mundo, ver a luxúria e a pobreza, a saúde e a doença, o bem e o mal ... "

3 comentários:

Mariana disse...

Tudo é aprendizagem, e nos somos turistas neste mundo onde temos o nosso testamento do que aprendemos ou apreendemos, as nossa "mala" que vamos enchendo ao logo da vida para partilhar,distribuir com o o intuito de fazer mais e melhor mas essa partilha crucial nestas interrelações e interacções deviarm ser um dever do ser humano enquanto SER. E quanto mais caminharmos para essa estranha, mais gente vem connosco.

Mariana disse...

*estrada

psipaula3 disse...

O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
...

Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.
...

Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
...

Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido. Ó horror
paradoxal deste pensar...
...

Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!
Fernando Pessoa

P.S. Achei que ficava bem aqui!!!