sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A vida na Aldeia

São 19h. O sino toca sete badaladas, que se fazem ouvir pela pequena aldeia.
As pessoas reunem-se a passo lento à volta da igreja. Umas levam flores para o cemitério que se encontra a caminho. Outras rezam o terço, enquanto que outras olham e comentam, criticam e lamentam, interrogam-se e surpreendem-se... apenas... com a vida dos outros.
A vida na aldeia é feita com base no sossego que nela existe. Sente-se o silêncio e a paz. Admiram-se as casas pequenas, envolvidas pelos verdes dos bosques, cobertas pela pedra fria e rodeadas pelos rebanhos.
O tempo passa cada vez mais devagar, mas os hábitos, os costumes e as tradições mantêm-se.
São dias difíceis. A família está longe, emigrou. As pessoas da aldeia ocupam-se com o vulgar. Falam daqueles que erraram, daqueles que partiram e dos que nunca conheceram.
Acomodam-se com um simples " bom dia ", levantando a mão.
Vivem fechadas nas suas preocupações mas interessam-se pelos azares dos outros.
Os tempos mudaram. As gerações evoluíram. Existe alguma razão para que as mentes continuem tão fechadas?
Uma aldeia tão pequena e ao mesmo tempo tão grande a nível de beleza natural...
As tecnologias passam-lhes ao lado. A moda é criticada. A linguagem é um factor de choque. A Globalização ainda não passou por lá...
Sentem necessidade de confessarem os seus pecados a Deus e pedem o " bem " para os seus...
A vida na aldeia tem um ritmo próprio. Um ritmo que a cidade nunca poderá entender.
À noite, sente-se uma forte humidade. Os animais já dormem.
A pouca família que ainda sobra, reúne-se à mesa e agradece a Deus pela comida que lhes é servida.
Sorrisos desdentados, o volume alto da televisão, o cruzar das agulhas do crochê...
As luzes das pequenas janelinhas são cada vez menos.
A aldeia adormece. E amanhã?
" Amanhã será o que Deus Nosso Senhor Quiser. "

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Rotina

Acabaram as férias! Suponho que seja uma má notícia para a maior parte, mas é a realidade.
Chegam os dias caóticos. Com estes dias, vem o trabalho, a confusão, os horários, o stress, o cansaço...! A conhecida Rotina, que acaba por ser de tal forma aborrecida, pois simplificando, os dias são sempre os mesmos, correm sempre da mesma forma, a vida torna-se repetida.
Será mesmo assim?
Quem nunca pensou em quebrar a rotina? Quebrar de uma forte maneira!
Todos os dias acordamos à mesma hora, tomamos o nosso banho, tomamos o nosso pequeno-almoço, corremos para o trabalho, exercemos as nossas tarefas, almoçamos provavelmente no mesmo sítio, com as mesmas pessoas, olhamos para o relógio e corremos para o trabalho para preencher a tarde, para que mais tarde chegue a hora de saída, para irmos a correr para casa, fazer o jantar, quem sabe ver um pouco de televisão, e ir dormir, para depois, horas a seguir, acordarmos, tomarmos o nosso banho, o nosso pequeno almoço, corrermos para o trabalho, exercermos as nossas tarefas, almoçarmos no mesmo sítio do dia anterior, com as mesmas pessoas, voltarmos a olhar para o relógio, e corrermos mais uma vez para o trabalho, para voltar a preencher a tarde, para mais tarde irmos a correr para casa, fazer o jantar, vermos o mesmo programa do dia anterior, e claro... ir dormir, para mais tarde... acordarmos e fazermos tal e qual o mesmo.
Terá que ser mesmo assim ? A rotina, para muitos desanima, desmotiva...
Os dias não terão que ser sempre assim. É possível mudarmos isso. Porque não começamos a deixar de utilizar a rotina como culpada dos nossos "tristes" dias? Os nossos dias somos nós que os fazemos. A rotina não é a mãe das nossas chatices, nem dos nossos problemas.
No entanto, esta não deixa de ser um factor que nos possa ajudar a ter forças para nos levantarmos todos os dias de manhã.
Nas férias, ao recordarmos os dias terríveis que temos ao longo do ano, estamos precisamente a recordar a rotina que tanto criticamos e que perdemos durante um mês. É isso que nos faz sentir vivos!!!
Mas, podemos criar um novo desafio. Fazer de cada dia, um dia ... diferente.
Podemos pôr o despertador duas horas mais cedo e ter tempo para escolhermos uma roupa especial e irmos a pé para o trabalho, ou escolhermos outro transporte.
Ao longo do dia, podemos escolher uma música para que fique na nossa cabeça e que nos entretenha a trabalhar. Podemos levar um almoço de casa e almoçar perto do trabalho convidando um/uma amigo(a). À tarde, continuamos a nossa tarefa pensando que ao final do dia ainda vamos ter uma caminhada pela frente, vamos ver pessoas diferentes e ter a oportunidade de apreciar melhor a cidade. À noite, dedicar um bocadinho mais de tempo à cozinha e fazer um prato especial. Pôr a música que escolhemos e pô-la a tocar bem alto para mais tarde chegarmos à cama e podermos pensar que amanhã irá ser um dia diferente.
A rotina pode e deve ser quebrada.
Aquilo que fazemos dos nossos dias, tem um forte impacto na nossa maneira de ser. É isso que cria a dimensão das nossas vidas. A rotina... somos nós que a fazemos.
De uma coisa tenho a certeza: ao quebrarmos a nossa rotina, tornamo-nos diferentes. Damos à luz uma nova vida e assim conseguimos matar saudades das antigas lembranças que pareciam infinitas. Quando quebramos as rotinas, temos um gosto especial nesse acto, porque sentimos a mudança a crescer mas... é esse mesmo gosto que nos leva a mais tarde, a ter saudades da rotina que quebrámos. E assim, a rotina não pára...

Até amanhã.

sábado, 9 de agosto de 2008

假期

Passamos quase um ano inteiro a contarmos o tempo que falta para irmos de férias. Desesperamos pelos dias de sol e calor. Alguns procuram a paz e a calma dos lugares tranquilos, outros preferem a confusão e as multidões. Mas, não deixam de ser aqueles dias, livres para gozarmos à nossa maneira.
Chegou a minha vez. Vou procurar o meu refúgio, bem longe daqui, para poder ir à procura de novas inspirações, novas energias para começar depois , mais um novo ano de trabalho.
Procurem o vosso refúgio.
Boas Férias


O título significa férias em Chinês. Todos nós gostamos de férias, cada um à sua maneira.

Enjoy*

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Os Mitos do Amor

Faz algum tempo que li um texto que abordava as diferentes perspectivas do Amor, enquanto sentimento. Fiquei extremamente curiosa como foi possível na visão do autor, dividir o Amor em várias categorias. Mesmo sendo possível, pelo que comprovei através do texto, pois fez - me todo o sentido, não deixei de achar curioso.
Ocupei-me por algum tempo em pesquisar definições deste sentimento por nós tão conhecido e pude concluir, na minha perspectiva que o Amor é um termo utilizado para nomear um grupo de sentimentos, acções e padrões de pensamento que, embora relacionados, são bastante diversificados.
Os sentimentos envolvidos incluem o "desejo de tocar", segurar e estar perto do outro, vontade de ser gentil e carinhoso com o outro, sentimento de confiança e apreço que podem ser classificados respectivamente como precisar, cuidar e confiar.
É um sentimento sem qualquer sombra de dúvida realista, enriquecedor e permite que homens e mulheres cresçam como pessoas e consigam assim, criar fortes vínculos.
Os seres humanos, enquanto seres sociais, necessitam de contacto social. Contacto com várias pessoas. Esses contactos, levam ao desenvolvimento cognitivo e físico da própria pessoa. Desses contactos e dos relacionamentos que surgem dos mesmos, o ser humano acaba por relacionar-se através de diferentes estilos de amor, como produto das experiências do contacto com os seus provedores de carinho na infância.
A experiência amorosa está determinada em função dos níveis de intimidade, compromisso, paixão que sentem.
No entanto, pelo texto que li, como referi acima, pude concluir que cada tipo de amor apresenta os pontos positivos e negativos de cada sentimento ( amor vinculado, aventureiro, romântico, compassivo, comprometido, consumado ) em cada um dos tipos de amor.
E eu continuava a perguntar-me a mim mesma: " Mas que tipos de Amor ? O Amor não é um único sentimento...? Assim... como uma espécie de sentimento... Universal ? "
Sobre o amor, há na literatura várias teorias e modelos, tais como: Estilos de Amor, Amor e Expansão do Eu, Amor como vinculação, Love Stories, Triangulating Love...entre outros.
Percebi, após alguma pesquisa feita, que sou uma ignorante na matéria. Sempre achei que o Amor era o sentimento mais linear e que ... ou se ama, ou não. Certamente de determinadas maneiras, bem como a intensidade e a força com que se ama. Aliás, não existe uma frase que é o Amor e o Ódio são irmãos? Penso que isto mostra os extremos de cada um e para simplificarmos ainda mais... Ou se Ama Ou se Odeia.
Penso que estas teorias todas acabam por ser utilizadas para entender as diferenças individuais na forma de amar e de se apaixonar, pois há várias maneiras de amar.
Há três estilos primários de amor: Eros (apaixonado - a paixão romântica), Ludos (jogo do amor - a sedução como um fim em si mesma), Estorge (amizade - o amor-amizade); os secundários: Pragma (prático - o cálculo dos ganhos e das perdas), Mania (possessivo - obsessão) e Ágape (abnegado - a entrega generosa). As combinações entre as diferentes intensidades destes resultam em um imenso número de variedades de estilos de amor.
Quando consegui assimiliar toda esta informação perguntei a mim mesma: " MAS QUE MITOS? " Desde pequena, que ouço falar sobre o Amor. Foi um sentimento explicado e ensinado nas minhas aulas. Obviamente que há coisas que não se explicam mas apenas que se sentem...mas até que ponto podemos dividir o amor? Sim... todos sentimos de forma diferente, com visões diferentes. O conceito de amor pode variar de pessoa para pessoa, mas porquê dividi-lo? Porque não continuar a acreditar que é um sentimento que existe ( ou deveria existir ) em todo o lado do Mundo e que no fundo ... Ou amamos, Ou odiamos.
Acredito que o Amor é um sentimento íntinseco a nós. Nasce connosco. Não acredito na maldade e no ódio como valor absoluto. No amor, acredito...
Apaixonamo-nos, porque assim acontece. Não escolhemos por quem nos vamos apaixonar. Se odiamos alguém, foi porque assim o quisemos.
Não há categorias de tempo para este sentimento.

Fernando Pessoa dizia : "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."


Ama! Ama à tua maneira ... mas AMA!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Um mundo mais magro

Quem nunca ouviu dizer que " Gordura é Formosura " ? Ou melhor, que Gordura ERA Formosura...
No século XXI gordura é tudo menos formosura! Gordura é gozo, é motivo de piada, é tristeza, é doença, é solidão...
Crescemos num mundo repleto de perconceitos e estéreótipos. Um mundo que determina como as pessoas devem ser. Um mundo cheio de julgamentos que obriga tantas e tantas pessoas a convencerem-se de certos mitos de beleza.
No entanto, já ouvi dizer que as pessoas mais gordas são as mais felizes, por comerem melhor. É verdade?
Olhando para as jovens adolescentes dos dias de hoje, e se lhes perguntarmos se preferiam ser gordas ou magras que maioria de respostas iríamos obter ? Provavelmente, que gostariam bem mais de serem magras, pois a sociedade assim lhes compete.
Eu, enquanto jovem adolescente, vivo cercada de códigos e modelos que se criaram para nós enquanto Mulheres: Publicidade, Música, Moda entre outros...
É como uma classe social. Uma luta de classes em que as mais magras são as que vencem! São as que conseguem ser felizes, devido ao mundo em que vivemos.
Pergunto - me porquê ? A beleza é determinada pelo kg a mais ou kg a menos ?
Abrimos uma revista cor-de-rosa e deparamo-nos com as notícias : Novo creme anti-celulite; Novo gel anti-gorduras, Água Saciante - beba um litro por dia e vai emagrecer, Roupa que faz parecer mais magra...
Como é possível termo-nos tornado tão pequeninos e tão desinteressantes ? Como é possível quererem implementar códigos de beleza às mulheres??
É assim tão errado sermos como somos APENAS? Sermos gordas, magras, altas, baixas, morenas, loiras, ruivas, com sardas, com borbulhas , sem borbulhas ... ?
Acima de tudo, é importante não esquecermos as consequências que tudo isto trás. Mulheres deprimidas, jovens sem auto-estima, inseguras, obcecadas com ideias totalmente erradas, preocupadas com o que os outros vão pensar, de tal maneira tristes, que muitas vezes esta realidade leva ao suicídio!!! Sim, doenças como a anorexia e a bulimia por exemplo, levam a um número elevado de suicídios.
Até que ponto isto se justifica? Há gigantes problemas, há pessoas com doenças e deficiências e vamos - nos preocupar se temos 4 kg a mais do que é suposto ? Se estamos assim tão magras que não somos consideradas mulheres bem feitas ??
Somos NÓS pessoas incluídas na sociedade que determinamos tudo isto. E só seguimos com estas ideias para a frente se quisermos. Porque não podemos ser como queremos? Porquê sofrer um gozo ou uma discriminação por gostarmos de comer ( ou não ) ?
Muito do que vemos na televisão, revistas... não é verdadeiro! São formas de convencer as mulheres que também elas podem ser assim. Mas está errado. Cada um é como é. Eu ( enquanto mulher ) acredito na Beleza Natural. Na própria beleza da própria pessoa.
Peço a todas as mulheres que se olhem ao espelho por favor, durante 1m ou 1h se for preciso, e descubram o que há de natural dentro delas. Não o que têm que mudar para que possam satisfazer os outros.
Uma criança de 9 anos uma vez disse - me : sou como sou! Quem não gosta não olha...
Se uma criança de 9 anos consegue dizer isto, porque é que nós Adultos, não o conseguimos pôr em prática ?
Se eu não gostar de mim ... quem gostará?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Violência Doméstica

Quantas e quantas vezes somos surpreendidos por anúncios de prevenção, até mesmo campanhas, programas, livros, debates, baseados em princípios determinantes para a prevenção da Violência Doméstica?
Acredito, que ainda existam muitas pessoas que nem tenham um conhecimento próximo do que é de facto a Violência Doméstica.
Violência (Doméstica) pode ser definida como um acto praticado dentro de casa, usualmente entre parentes (marido e mulher ). Isto é, tanto pode ser a mulher a sofrer como o homem.
Existem várias práticas como a violência física, o abuso sexual, violência sexual, entre outros.
A nível estatístico, a violência contra a mulher é muito maior do que contra o homem.

Lenore Walker apresentou um modelo de "Ciclo de Violência" que consiste de três fases:

  • Lua de mel: caracterizada por afeição, reconciliação, e aparente fim da violência.
  • Surgimento da tensão: caracterizada por pouca comunicação, tensão, medo de causar explosões de violência.
  • acção: caracterizada por explosões de violência, abusos.

Por esta lógica, ficaríamos com uma ideia um pouco distorcida do casamento em si, mas a verdade é que é este o percurso que muitos casais levam infelizmente.
Até que ponto conseguimos imaginar o sofrimento de uma mulher, que chega a casa e tem como garantia que o marido lhe vai "bater" ? A dor profunda, é de tal maneira que muitas delas sentem uma enorme vergonha em desabafar, em contar e relatar o que se passa na verdade dentro das suas próprias casas. O medo .. provavelmente é ainda maior do que a vergonha. São pressionadas de tal forma pelos maridos, para não contarem nada a ninguém pois se o fizerem , a violência será ainda maior !! É-nos possível imaginar tal coisa ?? o que faríamos ?

É de extrema importância a existência de centros e associações para estas situações de crise com o objectivo de apoiarem as mulheres, vítimas de violação ou abuso sexual!
No entanto, para o acesso a estes serviços, é necessário que haja uma iniciativa própria das mulheres, o que muitas vezes, é um dos passos mais difíceis...
Para isso, apelo à comunicação social e a todas as pessoas, que através das suas redes pessoais, possam fazer divulgação destes serviços, dispostos a colaborar na prevenção da violência e a ajudarem estas mulheres a seguirem com as suas vidas longe de sombras.
Existem linhas de emergência a funcionar 24 horas.
Grupos de Ajuda Mútua são fortemente necessários, para que estas mulheres possam desabafar com outras mulheres que tenham as mesmas experiências ou até outras. Para que se possam trocar mecanismos de defesa, e ideias para combater esta terrível Violência que se instalou de tal forma nas casas portuguesas.